segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Última morada

Infelizmente, as visitas regulares ao cemitério passaram a fazer parte da minha vida. E ao longo deste tempo, não pude deixar de reparar que as pessoas têm pouquíssima imaginação no que diz respeito à escolha das inscrições tumulares. São todas muito parecidas e todas igualmente sem graça e até, como dizer, parvas: “Eterna saudade de…”, “Ficarás para sempre no nosso coração”, “Última recordação de sua família”, etc, etc…
Eu sei bem por experiência própria que quando se perde alguém muito próximo não há grande discernimento para arranjar uma frase interessante e original para servir de epitáfio. Normalmente, o que acontece é seguir-se uma das sugestões dadas por quem irá fazer a respectiva inscrição, o que não costuma ser um bom prenúncio, ou então percorrer o cemitério local e procurar nas sepulturas de mortos desconhecidos frases que definam o que sentíamos por quem perdemos (o que, convenhamos, é um programinha social pós-notícia de morte e pré-enterro bem catita!). Regra geral, o resultado costuma a ser piroso e de gosto duvidoso.
Quanto a mim, o ideal seria recorrer a uma empresa ou agência e dar aos profissionais todos os dados relativos à pessoa falecida. Estas agências seriam uma mistura entre agências de viagem e mediadores imobiliários – tratariam da nossa última viagem e também da nossa última morada. (E poderíamos ter algo como Agência de Viagens Abreu – o limite é o Céu; ou imobiliárias Já Era!). Desta forma, estes profissionais poderiam pôr toda a sua criatividade a funcionar e criar algo único e surpreendente. Mas tanto quanto sei, não existem estabelecimentos deste género, o que mostra a falta de visão dos nossos investidores e revela a minha excepcional capacidade para singrar no mundo empresarial (infelizmente, mais ninguém a vê).
As pessoas já fazem testamentos e já compram sepulturas antecipando o que sabem ser certo. Mas propunha que se fosse um bocadinho mais além e cada um de nós registasse também o que pretende que esteja escrito no seu próprio epitáfio, para evitar que lugares-comuns façam parte da nossa última morada. Eu, pelo sim pelo não já fiz uma lista de algumas frases que não me importaria de ver escritas na minha lápide:
"A morte fica-te tão bem!"
"Desconhecido nesta morada."
"Para qualquer informação, dirija-se à campa ao lado."
"Volto já!"
"Vende-se lugar. Boa vizinhança."
"Por favor, faça pouco barulho. Estou a tentar descansar."
"Eu não pedi para cá estar…"
"Aberto todos os dias das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 18h00."
"Eu não sou de cá. Estou só de passagem."
"Encerrado para descanso do pessoal."
"Mãe, estou aqui!"
"Capacidade: 4 lugares deitados."

Aceitam-se mais sugestões. (E também um sócio com capital…)

1 comentário:

Curufinwë disse...

Gosto particularmente do "Volto já!" e dos "4 lugares deitados".

Deixo aqui (já que o resto do pessoal parece ter receio de arriscar) mais uma ou duas sugestões:

"Aluga-se T0: boas áreas"
"Assim na morte como foi em vida!"
"Em caso de falha de corrente, por favor, acender uma vela"
"Alérgico ao pólen!"
"Proibido foguear"
"Bebidas alcoólicas só a partir das 10h da manhã. Não é permitido estudar"
"Reservado"
"Coloque aqui o seu voto"