sábado, 22 de março de 2008

Leiam este livro!

Ainda não fui ver o premiado filme dos irmãos Coen, dupla que muito admiro. Uma oferta inesperada, mas certeira, fez chegar às minhas mãos o livro Este País Não É para Velhos de Cormac MacCarthy. E enquanto não o terminar, o filme terá de ser adiado (mas por pouco tempo, estou em crer). Não vos vou contar nada sobre o enredo, como é óbvio, mas posso dizer-vos que MacCarthy é um excelente escritor. E espero que este seja apenas o primeiro de muitos livros dele que irei ler.
Vou deixar-vos um pequenino excerto do início do livro. Não há aqui nenhum spoiler, apesar de parecer que muita informação está a ser revelada. Esta é apenas a 1.ª página, do 1.º capítulo:

“Mandei um moço para a câmara de gás de Huntsville. Um e só um. (...) Ele tinha matado uma rapariguinha de catorze anos e uma coisa vos garanto, nunca tive grande vontade de o visitar, quanto mais ir à execução, mas a verdade é que fui mesmo. (...) Ele namorava com aquela moça, apesar de tão novita. Tinha dezanove anos, o fulano. E disse-me que andava a planear matar alguém há imenso tempo, já nem se lembrava há quanto. Disse-me que se o libertassem voltava a fazer o mesmo. (...) Tratava-me por xerife. Mas eu não sabia o que lhe havia de dizer. O que é que se diz a um homem que é o primeiro a reconhecer que não tem alma? Para quê dizer-lhe seja o que for? Fartei-me de matutar nisto. Mas ele não era nada, comparado com o que aí vinha.
Dizem que os olhos são as janelas da alma. Eu cá por mim não sei de que é que os olhos são as janelas e se calhar até prefiro não saber. Mas há uma outra maneira de ver o mundo e outros olhos para o ver e é por esse caminho que nós vamos. Eu próprio o trilhei e conduziu-me a um lugar na minha vida que nunca imaginei chegar a conhecer. Algures por aí anda um profeta da destruição, um profeta genuíno, de carne e osso, e eu não o quero enfrentar. Sei que ele existe. Vi a obra dele. Caminhei diante daqueles olhos numa ocasião. Não o tornarei a fazer. (...)”

MACCARTHY, Cormac, Este País Não é para Velhos. Lisboa: Relógio d’Água, 2007, p. 16. (Trad. Paulo Faria)

2 comentários:

Kaamuz disse...

Vi o filme, e tenho a dizer que foi perturbadoramente tranquilizante. Quase que nos embala pelo ritmo, e a prestação muito boa dos actores.
Claro que, não sei se a regra alguma vez vai mudar; para alguém que lêo livro primeiro, é difícil o filme trazer algo mais.
Mas num bom livro tudo sabe muito melhor. :') hehe..

Soneca disse...

O livro é excelente! Mal posso esperar para ver o filme. Eu percebo o que dizes. Mas teria sempre um problema: se visse o filme primeiro, o livro já não teria o mesmo impacto; e vice-versa. Mas acho que vai valer a pena! Já vi algumas imagens do filme e estou em pulgas! Eu adoro os irmãos Coen e acho que não me vou arrepender de ter lido o livro primeiro. Uma vez fiz o contrário. Vi As Horas e gostei tanto do filme que depois li o livro do Michael Cunningham. O livro era muito bom, mas achei que perdi um bocado na leitura porque estava sempre a ver quando chegava a uma determinada parte que tinha visto no filme, percebes? Acho que “comi” as palavras com demasiada gulodice... Gostei do “perturbadoramente tranquilizante”! Nice...