sábado, 23 de fevereiro de 2008

Warren Ellis, FreakAngels e Fell

Já está disponível o 2.º episódio de FreakAngels, o novo trabalho de Warren Ellis, que conta com a colaboração de Paul Duffield como ilustrador.
FreakAngels pretende ser uma BD online contínua, gratuita e adicionada, episódio a episódio, semanalmente - tendo em conta, no entanto, a multiplicidade de projectos que este escritor costuma gerir ao mesmo tempo, tenho algumas dúvidas quanto ao cumprimento da periodicidade proposta.

Warren Ellis, à semelhança dos seus compatriotas Neil Gaiman ou Alan Moore, é um dos mais brilhantes escritores de comics da actualidade (será coincidência o facto de todos eles serem britânicos?). Dotado de um memorável percurso entre as mais prestigiadas editoras norte-americanas (leia-se Marvel ou DC, por exemplo), começou a publicar, há cerca de 2 anos, com ilustração de Ben Templesmith (mais conhecido pela sua associação a Steve Niles e os seus 30 Days of Night, adaptado ao cinema, recentemente - BD, da IDW, com uma óptima premissa original, mas que, por razões nitidamente comerciais, dispersa-se em inúmeras e eternas sequelas irrelevantes), um comic-book de nome Fell, editado pela Image, e que acaba por ser o objectivo principal deste post.


Uma das (estranhas) premissas para o surgimento do projecto foi a insurgência de Ellis contra o preço das séries mensais de BD. Segundo o autor, quando ele era bem mais jovem (e eu também), a banda-desenhada comprava-se com os trocos que tínhamos no bolso, algo que não acontece hoje. Assim sendo Fell apresenta um preço de capa de 1.99 dólares ou contrário da média de 2.99 a 3.50 dólares das restantes revistas do mercado. Mas para que este baixo valor fosse viável, algumas alterações estruturais tiveram de ser feitas - cada história tem somente 16 páginas, por oposição às habituais 22 dos outros comics. Não obstante, alguns truques foram utilizados para que o tempo de leitura fosse idêntico (e, muitas vezes, superior) à concorrência. A saber:

a) não existem, em Fell, splash-pages (ou seja, 1 única vinheta composta por 2 páginas) que, normalmente, atraem quem compra BD pelas ilustrações, mas, na verdade, não adicionam nenhum valor especial à narrativa e queimam espaço importante para o desenvolvimento da história;
b) é utilizada, em grande parte da revista, a técnica de 9 painéis por página, algo tortuoso para o ilustrador, mas que possibilita uma maior quantidade de informação e obriga a um ritmo de leitura mais lento;
c) quase todas as vinhetas têm balões ou caixas de texto;
d) no final de cada história, existem várias páginas de denso texto corrido, descrevendo as motivações, inspirações ou técnicas para a elaboração dessa mesma história.

Em termos de conteúdo, Fell é uma mistura de noir com thriller e uns laivos ínfimos de gore e terror. A narrativa acompanha o dia-a-dia do, notoriamente, eficiente detective de polícia Richard Fell que, por alguma razão ainda por identificar, foi transferido do outro lado da ponte, para uma zona apelidada de Snowtown, onde se larga tudo o que se quer esquecer. Em Snowtown, o índice de criminalidade ultrapassa todos os valores conhecidos e o número de efectivos policiais seria insuficiente mesmo para uma pequena aldeia. Aos poucos, Richard vai sendo confrontado com os crimes mais violentos, perpetrados pelos indivíduos mais estranhos e doentios que se possa imaginar. Começando a perceber a verdadeira dimensão dos problemas de Snowtown e dos seus habitantes, Richard vai, lentamente, cumprindo o seu dever e retirando de circulação alguns elementos extremamente perigosos. Snowtown está praticamente isolada do mundo, deixada ao abandono, e ninguém parece preocupar-se - será muito difícil para Fell fazer qualquer tipo de diferença, embora seja essa a sua profissão.

Com uma periocidade mensal muito peculiar (somente 8 números em mais de 2 anos), cada revista apresenta uma história de princípio e fim, podendo ser lida a qualquer altura sem necessidade de comprar os números anterior ou seguinte, reforçando ainda mais a "batalha" de Ellis contra o cariz comercial da indústria de BD. Note-se, ainda que cada relato é baseado em notícias ou factos verídicos, intensificando, assim, o carácter horrível da narrativa. Se tiverem interesse (e eu, vivamente, recomendo que lhe dêem uma oportunidade), deverá estar a sair, nesta altura, uma compilação em trade paperback.
Fell é do que melhor se faz, em termos de BD, nos tempos que correm.

2 comentários:

horned_dog disse...

Ora pois, este Fell não me é nada desconhecido, acho que o sabes bem. E é dos comics que mais me interessam, dada a sua fantástica e intrigante premissa. Lamento apenas o facto de andar um bocado afastado dos comics em geral e ter deixado este passar-me ao lado no meio de tantos outros. O facto de ser baseado em factos verídicos é ainda melhor. Sou daqueles que não resistem à estranha atracção que os seres humanos tem por tudo o que é maléfico na natureza humana.

Espero ansiosamente pelo trade paper back...

Curufinwë disse...

Quando sair o trade, envio-to por correio! Vou precisar da morada, claro...