quarta-feira, 11 de junho de 2008

O gruyère, a blitzkrieg e enchilladas

Não consigo entender a razão de ser de alguns prémios simbólicos. E suponho que, mesmo com prémios financeiros, a adoçar o insulto, quem os recebe acaba por perder um pouco de dignidade. Um pouco como recebermos um buda de porcelana e 20 mil euros após termos conseguido fornicar um lama durante 14 horas seguidas.

Vejamos o caso da Fórmula 1:
Arriscamos a vida em cada curva, mesmo que nunca superemos os 302 km/hora.
Perdemos quilos de peso e não deve de existir cartilagem que não fique semi-liquefeita.
Somos obrigados, durante umas 3 horas, a beber por um tubinho e a ver em cinemascope o próximo muro a aproximar-se de nós com um sorrisinho que parece dizer "byte me"! E o que nos dão se, não só conseguirmos sobreviver, mas também ganhar a corrida?
Uma garrafa com 43 litros de champanhe!! É como se estivessem a dizer : por amor de Deus, bebe isto tudo porque assim talvez na próxima corrida absurdamente perigosa ainda estejas com o pifo ou, no mínimo dos mínimos, com uma ressaca enorme e assim talvez livres o mundo da tua bizarra presença, ó meu indestrutível freak de mer*a.

Volta à França:
Para quem consegue fazer uma volta à França em bicicleta a situação não é muito melhor:
Verdadeiros ratos brancos do doping internacional é incrível que os "com_ correntes" (não resisti a uma piada fácil) não cheguem à meta com três pares de orelhas em cada cotovelo ou testículos nas narinas. É absolutamente impressionante a quantidade de químicos que flui naquelas veias.
Verdadeiras tabelas periódicas humanas, correm também o natural risco de serem atropelados por um tanque alemão a caminho de mais uma invasão. Invasão essa que naturalmente se dará pelas Ardenas como as últimas 3 (duas na segunda guerra e uma na primeira). Mas os franceses ainda não se aperceberam de tal, o que é compreensível, tendo em conta que se viramos logo as costas e fugimos em vez de dar luta dificilmente saberemos exactamente onde estará o inimigo.
Num país em que os os homens cheiram a perfumes, os perfumes a queijos, os queijos a meias, e as mulheres a algo indefinível porque simplesmente não usam meias (ou cuecas segundo dizem) é mesmo muito difícil conseguirmos manter a concentração. E reconheçamos que, para deslizar a 93 Km/hora pela encosta de uma montanha e não darmos uma terrível dentada no pinheiro mais duro do percurso, a concentração é algo particularmente útil.
Mas qual o prémio a quem, qual Takeshi´s Castle, supera tais desafios?
Uma t-shirt AMARELA e DUAS FRANCESAS!!!
Por amor de Deus... T-Shirt? E amarela? Mas quem é que usa uma coisa daquelas? A única vez que vi uma t-shirt AMARELA foi num vídeo do George Michael de 1986 em que ele e o namorado eram pilotos de uma linha aéria do Taiti e esses dois só por sí conseguiam ser mais femininos que as próprias hospedeiras. Portanto, nem aí precisavam dessas t-shirts AMARELAS.
E DUAS FRANCESAS? Porquê DUAS? E porquê FRANCESAS? Porque se está mesmo a ver... depois de ciclar 3500 km estamos mesmo com energia para ir para a cama com duas brasas. Ainda por cima, sendo francesas, elas nem vão precisar de nós para o seu fromage à dois...

Ténis:
Durante 4 horas e 28 minutos testamos ao limite as nossas rótulas debaixo de um sol abrasador na Austrália (é verdade... a Austrália também tem sol abrasador...).
Durante 4 horas e 28 minutos tentamos não morrer com aquele ponto amarelo que se dirige à nossa testa a 184 km/hora. Aliás... ele tenta sempre ir para o lado oposto, nós é que insistimos em nos meter à sua frente. E obviamente tentamos fazer o mesmo ao outro jogador, que conseguiu, à socapa, estender uma rede no meio do campo para protejer os genitais, embora estranhamente tal rede não proteja os nossos. Quem já jogou ténis percebe a que me refiro...
Durante 4 horas e 28 minutos a única manifestação do público é um contínuo e desolador gesto de reprovação com o seu abanar lateral de cabeça. Nem "ondas", nem buzinas, nem confetis, nadinha. Só um tremendo e longo lamento (4 horas e 28 minutos) por lá terem ido gastar o seu tempo.
E que ganhamos com isso? Um carro! Ou seja... agora que, após o final da partida, não vamos poder andar durante os próximos doze anos, dão-nos um Jaguar e dizem:
Este carro de luxo é teu! Foi bem merecido. Agora só tens de o conduzir para fora deste recinto rectangular absolutamente isolado (Já alguém viu esses carros a entrarem no campo? Acho que descem pendurados de um Sikorsky S-64 Skycrane), assumindo que as tuas pernas ainda sejam capazes de utilizar os pedais e o teu ombro ainda consiga ter força suficiente para o travão de mão. Se não o quiseres levar, ele pode ficar aqui para o próximo torneio.

Futebol:
Mas para que serve a taça?
Mas para que servem as medalhas?

Quanto às medalhas é muito provavelmente o único adereço de moda que os futebolistas não utilizam. No meio de tantos brincos, em vários sítios, e tantas tatuagens, em vários sítios, e tantos colares e pulseiras, em vários sítios, nunca lá vi uma medalha. Suponho que os clubes as dão, com todas as informações necessárias, aos jogadores mais valiosos com medo de estes se perderem e poderem assim ser devolvidos. Mas invariavelmente quando estes se perdem há sempre algum clube mais importante que os encontra e fica com eles. E muito convenientemente deita a antiga medalha para o lixo.

Em relação às taças:
Existem no mínimo 24 jogadores em campo (mais ainda se os suplentes jogarem).
Existem no mínimo 90 minutos de jogo (mais ainda com prolongamentos ou mais ainda com o golo de ouro (que nestes tempos politicamente correctos substituiu a "morte súbita")).
E qual é a única coisa em comum a todos os jogadores durante estes intermináveis minutos?
Não são definitivamente os golos porque nem todos os marcam.
Não são definitivamente as lesões porque nem todos as recebem, ou provocam.
Não são definitivamente os insultos à mãe do árbitro porque, com tanto jogador em campo, esse árbitro tem sempre algum primo em pelo menos uma das equipas e ninguém pensará isso da sua própria tia.
Então o que é? Obviamente as escarradelas.
Portanto é só fazer as contas: pelo menos 24 jogadores a 90 minutos de jogo dará um total de 432 pristinas escarradelas, assumindo para cada jogador a média de um escarro por cada 5 minutos. Ora se assumirmos que cada escarro de jogador novo e saudável terá em média um centilitro, teremos então aproximadamente 4,32 litros de verdejante gosma no final do jogo. E qual calculam que será a capacidade máxima de uma taça? Precisamente 5 litros (já a contar com possíveis jogadores e minutos extras).
Mas então porque dão a taça no final do jogo?
Bem... o que é que acham que a equipa perdedora vai ter de fazer com essa taça quando os holofotes se desligarem? Há muito campo para ser limpo!

Óscares:
Se conseguimos, nesta era de cinismo e relativismos, ser valorizados por alguém que não somos, por coisas que não fizemos verdadeiramente e ainda por cima termos sobrevivido durante 2 meses e meio com a comida de um serviço mexicano de catering, muito provavelmente arriscamo-nos a receber um Óscar.
Para quem não sabe, o Óscar não é de inteiramente de ouro. É uma estátua de metal negro (britannium) de 34 cm, de 3.85 Kg, coberta com uma finíssima camada de ouro. Basicamente um dildo de luxo, portanto. Porque, depois de aturarmos a organização de um realizador italiano, a modéstia de uma actriz francesa, a flexibilidade de um produtor alemão e a imaginação de um argumentista belga, a par da generosidade de um financiador escocês, obviamente que precisamos de um "quality time" a sós. E aí nada como um tubo de britannium para relaxar e fazer esquecer durante algum tempo toda a maldita raça humana.

Huum... talvez o Óscar seja mesmo a excepção nesta curta lista de intermináveis e absurdos prémos. Suponho que por isso é até o único prémio que não vem acompanhado de dinheiro para compensar, mas sim com um interminável discurso que, invariavelmente, refere todos aqueles em quem não vamos querer pensar na intimidade do nosso quarto e com o britannium no nosso íntimo!

1 comentário:

Curufinwë disse...

Eu cá não ligo a desporto...

Seja como for, só sei que mais inútil do que os prémios, só mesmo o objectivo das provas. E não me venham com as costumeiras tretas de que é saudável competir: o Desporto serve para criar sectarismo e, de forma velada, identificar os fortes e os mais fracos; se fosse saudável, os modelos de Gestão actuais, não estariam tão podres por dentro nem "formariam" indivíduos tão execráveis e inescrupulosos!

P.S.: no Ténis também se recebem jarras de vidro e no Futebol estão no máximo (e não no mínimo) 22 (e não 24) jogadores; quando entra um suplente há sempre outro que sai; de qualquer forma, o que é que eu sei? Eu não gosto de desporto...