sábado, 14 de junho de 2008

R.I.P. Corneto De Chocolate (Felgueiras-Pastelaria Pinheiral 15-5-79 / Porto-Café Clássico 14-6-08)

Nunca mais esquecerei aquela tarde primaveril do já longuínquo ano de 79. Foi aí que despertou o meu ser e a minha "aparição", como diria o Vergílio Ferreira.

Foi aí que, pela primeira vez, provei a Spice Mèlange daquele bizarro Portugal do P.R.E.C.
Refiro-me obviamente ao Corneto De Chocolate!
Às 15h30m e 25s, com o corneto a um escasso segundo dos meus lábios eu não existia, mas no segundo seguinte "olhei-me ao espelho" e pensei... eu existo!!!

E quem controla o Corneto De Chocolate... controla o mundo!

E assim foi até hoje, completamente mutante devido ao uso contínuo do Corneto De Chocolate, incluindo a esclerótica azulada, mas senhor do meu castelo (e também único habitante).
Mas às 19h34m e 34s... tudo mudou. Aliás... tudo parou, porque continuarei ad eternum nas 19h34m e 34s...
Tudo parou porque ao pedir mais um Corneto de Chocolate ouço estas terríveis palavras do Freemen que me atendeu...

CUNETOS?!?!? JÁ NÁDISSO!!! AGORÉ CHÓCA DISQUE!!!

Choc-Disk??? Mas isso soa a álbum de Verão dos Onda Choque!
Por amor de Deus!! E, ainda em choque, lá dei por mim a perceber o que era aquilo que tinha nas minhas mãos... Os amendoins? Desapareceram quase todos! O chocolate? Existe apenas em cima porque o interior foi substituído por algo que ainda não percebi se é café, caramelo ou laranja.
A minha vida deixou de ter sentido...
Foi o Corneto de Chocolate que me mostrou a existência!
Foi o Corneto de Chocolate a minha companhia nas intermináveis horas da mira técnica.
Foi o Corneto de Chocolate o meu amigo fiel quando todos jogavam à bola na praia e me deixavam na toalha (muito compreensivelmente aliás...).
Foi o Corneto de Chocolate o meu primeiro amigo quando me arrancaram os molares!
Foi o Corneto de Chocolate quem me mostrou o que era o arrependimento depois de o despejar pelo colarinho do meu pai.
Foi o Corneto de Chocolate o meu único consolo, naqueles tempos pré-Onan, quando me retiraram as amígdalas.
Foi o Corneto de Chocolate quem me mostrou o que era a perda quando deixei cair o seu topo de nata no alcatrão quente e grosseiro junto à praia.
Foi o Corneto de Chocolate quem me ensinou o que era estar 4 dias a chá e torradas, provavelmente por o ter comido após o tirar do alcatrão quente e grosseiro junto à praia.

Enfim... foi a doce escola da minha amargola vida.
E hoje subitamente.. feneceu.
Não foi substituído por algo supostamente igual como os pastéis de nata, porque para amigos a sério não se encontram suplentes. Antes ter-se-á desvanecido como os Kalkitos... Mas ao contrário destes não demorei 26 anos a sentir a sua falta.

Descansa em Paz
.. sem ti este longo deserto cheio de dunas e vermes já não tem piada.

1 comentário:

Curufinwë disse...

Meu amigo, do Perna de Pau a única coisa que resta, vagamente semelhante à deliciosa iguaria de nata e morango ácido é o gosto a contraplacado do próprio pau.

É um gelado que nunca, outrora, estivera tão coxo...